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A Navalha de Occam: origens, conceito e relevância

  • Foto do escritor: Ricardo Frugoni
    Ricardo Frugoni
  • 12 de out.
  • 3 min de leitura

A Navalha de Occam (ou “princípio da parcimônia”) é um guideline filosófico atribuído ao frade franciscano inglês William of Ockham (c. 1287-1347). Em sua formulação clássica — entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem (“não se devem multiplicar entidades sem necessidade”) — o princípio recomenda preferir, entre hipóteses igualmente capazes de explicar um fenômeno, aquela que faz o menor número de suposições adicionais.


Embora não seja uma lei física nem garanta que a explicação mais simples esteja sempre correta, a Navalha de Occam cumpre duas funções práticas:


  1. Eficiência cognitiva – Reduz a complexidade mental exigida para compreender, testar e comunicar hipóteses.

  2. Falsificabilidade mais ágil – Quanto menos variáveis livres, mais fácil é submeter a hipótese a testes empíricos capazes de refutá-la.


Limites e cuidados

  • Simplicidade não é simplismo: eliminar fatores essenciais gera modelos sub-explicativos.

  • Domínio específico: em sistemas caóticos (clima, mercados financeiros) a versão “mais simples” costuma incluir mecanismos de feedback complexos.

  • Viés de confirmação: buscar explicações “elegantes” pode levar a ignorar dados que apontem para estruturas mais intrincadas.


Da filosofia medieval ao mundo dos dados

1. Parcimônia estatística

Em ciência de dados, a Navalha de Occam se traduz na escolha de modelos adequados, não excessivamente complexos. Por exemplo, ao prever churn, um logistic regression bem calibrado pode entregar acurácia próxima à de um ensemble avançado, custando menos para treinar e explicar aos stakeholders.


2. Regularização e overfitting

Técnicas como L1/L2, dropout e poda de árvores são implementações matemáticas da Navalha: penalizam a complexidade excessiva para evitar que o modelo “decore” o ruído do dataset.


3. Métricas de Informação

Critérios como AIC (Akaike) e BIC (Bayesian) equilibram erro de ajuste e número de parâmetros, formalizando a busca pela hipótese mais simples que dê conta dos dados.


Paralelo com decisão baseada em dados e pensamento crítico‑analítico

A Navalha de Occam propõe evitar explicações desnecessariamente complexas, o que encontra eco direto na prática de decisão baseada em dados (data-driven) e no uso de um pensamento crítico e analítico para interpretar informações.


Por exemplo, assim como Occam sugere evitar hipóteses supérfluas, a análise data-driven também deve evitar métricas ou dashboards redundantes, que geram ruído em vez de clareza. Do ponto de vista crítico, isso exige questionar se cada dado é realmente relevante para o problema em análise, evitando análises artificiais ou desnecessárias.


Quando o princípio recomenda preferir a explicação com menos suposições, estamos falando da mesma lógica que leva um analista a escolher modelos explicáveis (interpretable ML) quando sua performance se aproxima da de modelos mais complexos. Esse mesmo cuidado é adotado pelo pensamento analítico ao buscar causas prováveis, antes de aceitar correlações ou narrativas complexas e pouco verificáveis.


Outro ponto essencial é a ordem de abordagem: testar primeiro a hipótese mais simples corresponde, no mundo dos dados, a começar por KPIs básicos antes de avançar para análises sofisticadas. O pensamento crítico reforça essa abordagem ao formular perguntas que eliminem vieses e priorizem hipóteses mais sólidas.


Por fim, a Navalha de Occam valoriza a revisão de hipóteses diante de novos fatos, algo que se manifesta nas boas práticas da ciência de dados, como atualizar modelos à medida que novos dados chegam. O pensamento crítico acompanha esse movimento ao ajustar conclusões sempre que surgem evidências contrárias, mantendo a flexibilidade e a humildade intelectual que são essenciais para decisões verdadeiramente inteligentes.


Por que isso importa para Decisões baseadas em dados?

  • Foco em gargalos reais: usar Occam como bússola impede que empresas colecionem indicadores sem propósito, mantendo o olhar nas variáveis que realmente movem conversão e receita.

  • Comunicação executiva: modelos parcimoniosos geram narrativas claras — essenciais para alinhamento entre times de vendas, marketing e C‑level.

  • Escalabilidade: soluções simples são mais fáceis de automatizar via Python/SQL e integrar a CRMs, reduzindo custos de manutenção.


Conclusão

  • Protege contra o excesso de complexidade.

  • Mantém a análise alinhada a objetivos de negócios.

  • Potencializa o pensamento crítico, transformando dados em decisões claras e acionáveis, exatamente a proposta de converter inteligência em receita.

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