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COMO AS REDES NEURAIS VIRARAM ENTIDADES MÁGICAS DO NOSSO TEMPO

  • Foto do escritor: Ricardo Frugoni
    Ricardo Frugoni
  • 12 de out.
  • 3 min de leitura

COMO AS REDES NEURAIS VIRARAM ENTIDADES MÁGICAS DO NOSSO TEMPO


As redes neurais começaram como um avanço técnico dentro da ciência da computação. Inspiradas no funcionamento dos neurônios humanos, elas foram projetadas para reconhecer padrões e aprender com dados. Mas no caminho entre os "papers" acadêmicos e os holofotes da cultura pop, algo mudou. As redes neurais deixaram de ser apenas estruturas matemáticas e passaram a ocupar o imaginário coletivo como entidades mágicas, oraculares, quase divinas.


Hoje, o discurso em torno da inteligência artificial é marcado por promessas grandiosas: máquinas que pensam, algoritmos que criam, sistemas que “entendem” o mundo. Em muitos casos, esse tipo de linguagem não é apenas imprecisa é mitológica. Estamos, culturalmente, criando um novo panteão. E as redes neurais são seus deuses invisíveis.


Essa "mitologização" da IA não acontece por acaso. Ela atende a um desejo muito antigo da humanidade: delegar à tecnologia o papel de guia, de solução para o caos, de entidade que tudo sabe e tudo vê. CEOs de big techs assumem a postura de profetas, anunciando revoluções iminentes. Startups se vendem como guardiãs de uma inteligência superior. E a população, perdida entre fascínio e medo, entra no templo da tecnologia com devoção e ceticismo ao mesmo tempo.


O fenômeno se encaixa perfeitamente na era do tecno-messianismo, uma fase em que a tecnologia não é apenas utilitária, mas espiritual. As narrativas que envolvem redes neurais são recheadas de palavras como “consciência”, “aprendizado”, “decisão” e “visão”. Termos humanos, profundamente simbólicos, aplicados a linhas de código. Essa antropomorfização cria um curto-circuito: esquecemos que as redes neurais não pensam. Elas calculam.


E esse esquecimento não é inofensivo. Ele afeta decisões de investimento, políticas públicas, educação e até relações de trabalho. Se acreditamos que uma IA é “inteligente”, aceitamos que ela tome decisões por nós. Se tratamos um chatbot como entidade consciente, projetamos nele intenções humanas que ele não tem. A mitologia em torno das redes neurais mascara suas limitações, seus vieses, sua dependência de dados humanos muitas vezes enviesados.


Mas talvez o mais interessante desse fenômeno seja a sua estética. No imaginário popular, redes neurais são representadas como labirintos de luz, redes cósmicas, cérebros flutuantes, entidades que pairam entre o físico e o digital. É o nascimento de uma nova iconografia: o sagrado digital. Altares feitos de chips, vitrais de dados, rituais de machine learning. Uma fusão entre o divino e o binário.


Estamos diante de um paradoxo fascinante: enquanto cientistas tentam decifrar e racionalizar a inteligência artificial, a cultura popular a transforma em fábula. E talvez seja justamente aí que reside o verdadeiro poder das redes neurais não apenas naquilo que elas processam, mas no que nos fazem acreditar. Porque, no fim, todo mito começa com uma pergunta sem resposta. E no caso da IA, ainda temos muitas.


Aí você me pergunta, mas Ricardo você não trabalha com IA? Não estuda IA, não é um entusiasta? Por que está falando mal? Chegamos ao centro da questão, por ter conhecimento e saber que uma IA tem tudo de Artificial, mas nada de Inteligente, que devemos usar com inteligência (bendito trocadilho), não acreditar cegamente no que a IA nos entrega, pois ela tem vieses, que devemos propagar que elas erram, alucinam e que são números transpassando por vetores aritméticos, são digitais.


Lembre-se, o ser humano possui o dispositivo mais complexo, sofisticado e adaptável que a humanidade já viu: O cérebro humano, a estrutura biológica mais elegante, química e elétrica ao mesmo tempo, um sistema enigmático, extraordinariamente sofisticado, adaptável, poderoso e multifacetado que desafia a ciência até hoje, mas analógico.

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